Estava irritado e cansado. O trabalho naquela usina estava lhe sugando a vida. E naquele dia ainda, seu chefe havia mandado que ele fizesse hora extra. Já era tarde da noite quando conseguiu finalmente pegar um ônibus de volta para a casa. Sentou-se bem no fundo, mesmo que os bancos estivessem quase todos vazios, se não fosse por duas senhoras que conversavam perto do motorista, um casal sentado bem no meio da fileira de bancos e uma moça sozinha que observava o movimento pela janela. Mas Rick estava mergulhado em uma profunda solidão.
Ao observar os namorados, deu-se conta, de que há muito tempo não se dava ao luxo de sair como uma mulher. Mas também, ele não tinha tempo para essas coisas, a carga horária de seu trabalho era pesada e nos finais de semana tudo que ele queria era ficar em casa com seu violão, que há muito tempo era seu único amigo.
Lembrou-se então, que semanas atrás Katia havia lhe dado seu telefone. Ele o guardou, mas nunca teve tempo de ligar para ela. A moça era bonita, porém de uma beleza comum, nada de extravagante, seu olhar era pouco expressivo assim como as roupas que vestia. Rick tinha uma simpatia grande por ela, mas nada que o fizesse convida-la para sair, embora ela sempre se mostrasse interessada. Mas quem sabe ? Talvez ele se surpreende-se.
Pegou a carteira no bolso da calça e procurou pelos compartimentos um papel com um telefone. Achou. Numa folha dobrada de qualquer jeito, estava escrito em letras garrafais Katia, logo abaixo um número. Guardou de novo o papel, e deixou para decidir se ligaria ou não quando chegasse em casa.
Desceu um ponto antes do seu. Precisava pensar um pouco, e os únicos momentos em que podia relaxar e pensar sobre a vida eram estes, voltando para a casa, na rua deserta e mal iluminada.
As estrelas mantinham um brilho fosco, e a lua não estava aparecendo. De repente, ele sentiu uma saudade dolorida do tempo que sua mãe estava viva. Sabrina era tão jovial quanto seu nome. Exibia sempre um sorriso amável, e era muito esperta e ativa, até que o câncer tomou conta. Mesmo assim, Rick se lembrava, que mesmo doente a mãe permanecia sorrindo e sempre de muito bom humor.
Quando ela estava viva, ele tinha um emprego de que realmente gostava. Com seu amigo Billy, tomava conta de uma loja de CD'S no centro da cidade. Depois da morte de sua mãe, abandonou o negócio e arrumou um emprego em uma metalúrgica para sustentar o pai, que de uma hora para a outra se enfiou dentro de um bar.
Ah, como era triste pensar na vida... Porém, ele não tinha tempo nem mesmo para se deprimir. Ao chegar no portão de casa procurou as chaves no bolso. Sem a minima vontade de entrar ali, entrou.
* * *
Quando Marjorie acordou o quarto já estava escuro. Deveria ter dormido muito, pois sentia o corpo todo doer. Sentou-se na cama e se lembrou vagamente do sonho que tivera.
"Ela estava abraçada com um rapaz, não podia ver seu rosto, mas tinha certeza de que era George. Com voz doce e ao mesmo tempo chorosa ela pedia:
- Me abraça. Forte. E nunca me deixe.
Ele não respondia nada, nem o minimo ruido, mas a apertava com força contra o peito. De repente, como um passe de mágica ele desapareceu e ela se viu sozinha. "
Passou a mão pelo rosto, estava suando. Pegou o celular e ligou, uma musica de inicialização tocou. Olhou as horas, 23:23. Sorriu e disse como deboche "Será que alguém está pensando em mim ? ". Logo o sorriso se apagou, e a luz do celular também. Deixando novamente o quarto em penumbra. E ela estava realmente sozinha.
* * *
Aquela noite Carolyn não conseguiu dormir. Em sua mente ainda rodavam as cenas da noite anterior. Se via beijando Victor. O quarto. A cama. O corpo nu do garoto em cima do seu. Depois o via a abandonar nua e frágil em seu quarto, sem a minima palavra. Em seguida ele ria e contava vantagem para um bando de idiotas. Será que riam dela ? Que tipo de imagem ela tinha para aqueles olhos acusadores ?
Alguém, por favor, os faça parar de rir !
Sentou-se na cama e se encolheu, como uma criança assustada. Com as mãos sobre o rosto sentiu lágrimas quentes escorregarem pelos dedos.
Ela era uma vagabunda, se sentia assim.
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